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sábado, 10 de março de 2012

"Dez Razões Para Amar"



                      Capítulo Quatro

- Quero ver como é que ela vai nos aborrecer hoje – sussurrou Micael em meu ouvido, enquanto a diretora Martin adentrava o palco de auditório para a nossa reunião semanal.
Esforcei–me para não soltar uma gargalhada.
- Talvez seja aquele discurso de “mantenha a escola limpa” – a Sra. Martin, uma mulher baixinha e rechonchuda com um enorme topete alaranjado, era definitivamente enfadonha.
Mas, pelo jeito que as coisas caminhavam, eu achava que tudo era possível. Até mesmo um discurso interessante da minha diretora. Além do mais, quem imaginaria que Micael ficaria esperando do lado de fora da minha sala para que nós pudéssemos sentar juntos na reunião?
Aquilo foi realmente romântico.
- Bom dia, alunos da escola Emerson – começou a Sra. Martin. - Nesse fim de semana eu estava pensando sobre responsabilidade…
- Não – murmurei para Micael. – É o discurso de dever de casa.
Ele sorriu para mim. Eu achei ótimo que nós pudéssemos fazer gozação juntos. Talvez existisse um pouco de Arthur nele, afinal de contas.
Enquanto a Sra. Martin divagava sobre a importância de estudar, percebi que tinha a oportunidade perfeita para analisar os casais na platéia: vendo o quanto eles se sentavam próximos um do outro, se eles ficavam de mãos dadas ou não, se trocavam olhares ou estavam realmente prestando atenção a diretora.
Anthony Perez e Shay–Lee Ibanez. Eles estavam no último ano e eram populares na escola Emerson. Estudei o modo como se recostavam um no outro, como ele segurava a mão esquerda sobre o seu colo. Como ela chegava a esticar todo seu braço esquerdo – que estava livre – para coçar seu ombro direito sem desvencilhar a mão direita do namorado. Isso era sentimental demais? Ou apenas carinhoso?
Eu estava tão ocupada observando os casais que nem percebi a Sra. Martin chamando o consultor do livro anual dos alunos, o Sr. Kensington para um pronunciamento especial.
O Sr. Kensington anunciou que a eleição para o historiador da escola aconteceria em duas semanas, e que os candidatos poderiam começar a colar cartazes da campanha a partir do dia seguinte. Ele mencionou algo sobre um debate, no qual os alunos poderiam ouvir o que os candidatos haviam planejado.
O historiador da escola era responsável por documentar os altos e baixos do ano para o livro anual dos alunos. Era algo bem importante na escola Emerson.
Olhei ao redor na platéia, procurando mais casais para estudar enquanto o Sr. Kensington continuava falando.
Uau! Um momento! Aqueles dois que estavam completamente grudados eram Arthur e Pérola? É verdade que não estavam de mãos dadas ou coisa parecida, mas o cabelo dela estava praticamente espanando o ombro dele.
Arthur havia me telefonado antes e depois do seu encontro com Pérola no sábado à noite. E depois havia revisado cada detalhe durante a nossa ida habitual ao Bowl–a–Rama para comer batatas fritas. Ele e Pérola tinham se dado super bem e se beijado duas vezes. Na boca.
Micael e eu não tínhamos nos beijado na boca em nosso primeiro encontro. Mas eu podia apostar que ele beijava incrivelmente bem.
“Será que o Arthur também beijava bem?”
Virei–me para frente, chocada com o pensamento que havia acabado de passar em minha cabeça. De onde eu tinha tirado aquilo? Arthur e eu já tínhamos abraçado e nos beijado mil vezes. Não beijo de namorados, é claro, mas dar bitoquinhas não era problema nenhuma para nós. Dei mais uma espiada de canto de olho em Arthur e Pérola. Ela fitava os olhos dele, ambos concentrados em uma conversa.
- Terra chamando Lua – Micael sorria para mim. Eu nem tinha percebido que a reunião já terminara. - Você ouviu alguma palavra que o Sr. Kensignton falou?
- Tudinho – menti, enquanto nos levantávamos para sair. Eu não queria que ele soubesse que eu havia bisbilhotado os casais da platéia durante o pronunciamento sobre o livro anual dos alunos. - Ei, então você está interessado em concorrer ao cargo de historiador? – perguntei. Neste momento já estávamos espremido por um zilhão de estudantes que tentavam deixar o auditório.
- Com certeza – disse ele. - Eu quero mesmo ganhar.
- Não vai ser muito trabalho? – perguntei. - Você já tem tanta responsabilidade no jornal!
- Eu preciso de desafios, Lua – retrucou ele. - Caso contrário, eu fico entediado.
Imediatamente eu percebi que estava “secando” Micael – olhando–o com aquela expressão descarada de admiração. Mas eu não podia evitar. Ele era tão ambicioso. Tão empreendedor. Tão capaz de fazer tudo.
- Sabe – falou ele, se aproximando de mim -, essas eleições não são nada mais do que concursos de popularidade. Um monte de gente aqui sabe quem eu sou, mesmo com o costume de fica à parte da multidão. Por isso eu tenho certeza que se pessoas mais extrovertidas concorrem ao cargo de historiador, eu posso perder. O que seria uma grande pena para toda a escola, pois eu trabalharia muito e levaria muito a sério.
- Eu votaria em você – disse, sorrindo.
- Ei, você se interessaria em me ajudar com a campanha? - perguntou ele. - Você é uma ótima redatora, e tenho certeza de que poderia criar uns bons slogans. Além disso, você poderia me ajudar a escrever o meu discurso para o debate. Seriamos um time como já somos lá no Postscript.
Um time…
- Uau, então eu seria uma espécie de diretora da sua campanha? – falei.
Eu conseguiria ter soado mais excitada do que isso? Era preciso manter minha alegria sob controle, ou eu começaria a pular como uma louca na frente de Micael! Tudo bem, com toda a calma, agora.
- Pode contar comigo!
Isso foi tão lisonjeiro. Ele estava pedindo a minha ajuda. Micael Borges!
Mal podia esperar pra contar pra Arthur.

***

- Isso é incrível! – exclamou Sophia, fechando com força a porta de ferro do seu armário.
- O que é incrível? – perguntou Mel, assim que chegou perto de nós.
- Olha isso – Sophia falou pra Mel - primeiro Micael a leva para um restaurante caro e a convida para o baile do dia dos namorados. Agora o cara quer que ela ajude na campanha dele para historiador da escola. Ele está apaixonado, sem dúvida!
- Você acha mesmo? – perguntei quase histérica. - Essas coisas significam que ele gosta de mim, gosta, muito? Gosta como namorado e namorada?
Sophia olhou perplexa para mim, então colocou sua mão sobre minha testa.
- Tá se sentindo bem? Tá com febre? Porque essa não é a Lua Blanco que eu conheço. Você tá completamente perdida!
Mel soltou uma gargalhada e prendeu seus longos cabelos loiros em um nó frouxo.
- Então, talvez ele não seja um “mala”, afinal de contas. Ele até parece ser legal.
- Ele é – garanti a ela. - Muito, muito, muito legal. Ele é tão diferente dos outros garotos…
- O Arthur ainda tem as desconfianças dele? – perguntou Mel. - Por que pode ser bem estranho o seu melhor amigo achar seu namorado um chato.
Eu já havia mencionado a Sophia e Mel que Arthur não tinha muita simpatia por Micael. As duas falaram que talvez Arthur estivesse com ciúmes de que outro garoto estaria tomando todo o meu tempo. Elas nem desconfiavam do quanto estavam certas. Mas durante o resto do fim de semana, eu tinha ficado pensando se o problema era apenas ciúme, de fato. Parecia que Arthur não gostava de Micael por motivos próprios.
- Ele não é meu namorado...ainda. – corrigi Mel. - Tenho certeza de que se Arthur conhecer Micael um pouco melhor vai ver que ele é um cara legal.
Mas e se isso não acontecesse? E se meu melhor amigo e o meu pretendente a namorado se odiassem profundamente?

***

Espiei as mesas da lanchonete a procura de Arthur, carregando minha bandeja com muito cuidado para que minha salada não acabasse com molho de refrigerante. Ei, lá estava ele: eu reconheceria aquele cabelo grosso e brilhante e aquele suéter azul felpudo em qualquer lugar. Mal podia esperar para contar que eu ia ajudar Micael em sua campanha. Caminhei, me desviando das pessoas, em direção a um lugar vazio na mesa de Arthur. Mas eu não havia percebido que Pérola também estava lá.
- Oi, Lua – disse Arthur. - Que bom que achou a gente.
- É… oi – falei, percebendo a mão de Pérola segurando suavemente o braço de Arthur.
- Oi, Lua – disse Pérola. O cabelo dela estava preso em uma longa trança que pendia sobre um dos ombros. Timidamente, eu passei os dedos pelos meus cachos que chegavam um pouco abaixo da orelha. Arthur havia tido um ataque quando eu cortara meu cabelo há alguns anos atrás. De fato, meu cabelo, já havia sido mais longo que o de Pérola.
“Mas cabelos longos estão fora de moda”, pensei.
- A gente tava conversando sobre uma coisa engraçada que aconteceu hoje na aula de química – explicou Arthur, que olhou para Pérola, que desatou a rir.
Eu balancei a cabeça, sem saber o que fazer. Será que eles queriam continuar falando sobre isso sozinhos? Dei uma olhada pela lanchonete. Estava cheia de mais para eu conseguir um outro lugar. Coloquei minha bandeja na mesa e sentei–me na cadeira em frente a Arthur.
- Então, o que aconteceu? – perguntei, enfiando o garfo em minha salada. Eu não gostava de me sentir constrangida daquele jeito. - O que foi tão engraçado?
- Bem, o Briam Potter pegou o béquer, aquele copo de vidro no laboratório – começou Arthur.
- E, na mesma hora, a sra. Hunt entrou na sala – continuou Pérola. Logo em seguida, ela e Arthur se entreolharam e começaram a gargalhar compulsivamente.
- Você tinha que estar lá – disse Arthur, balançando a cabeça.
- Parece que sim – disse e abri um pequeno sorriso.
- E aí, como está o seu dia? – Pérola perguntou sorridente, sua cadeira terrivelmente grudada a de Arthur. Eles estariam com as mãos dadas debaixo da mesa? Tive que conter o meu impulso de examinar.
- Tudo bem – respondi educadamente, mastigando um tomate sem gosto. Notei que havia uma pequena espinha se formando na bochecha esquerda de Pérola. Por algum motivo, aquilo me deixou feliz.
Por um minuto ou dois, ninguém pronunciou uma palavra. Eu não conseguia acreditar que estava me sentindo acanhada ao lado de Arthur. Era como se a presença de Pérola tivesse tampado as minhas cordas vocais.
- Então, Pérola… – falei, vasculhando a minha mente a procura de algo simpático para dizer. Eu tinha obrigação de fazer isso pro Arthur, independente de quem fosse sua namorada.
- Lua!
Olhei para o alto, surpresa.
Micael estava em pé, sorrindo para mim, incrivelmente sexy com seus cabelos castanhos balançando ao vento. Ele tinha uma sacola de papel marrom em suas mãos.
- Ei, esse lugar tá ocupado? – perguntou, apontando para a cadeira ao meu lado.
- Não! – falei sorrindo, feliz pelo encontro inesperado. Micael não só estava me salvando de uma situação constrangedora, mas estava procurando uma ótima chance para que Arthur pudesse conhecê–lo melhor.
Ao sentar, Micael balançou a cabeça, cumprimentando Arthur e Pérola.
- Você já entrevistou alguém para o artigo do dia dos namorados? – perguntou ele, antes de dar uma garfada enorme em sua salada de frango.
- Só uma pessoa – contei a ele, arrependida por não ter feito mais entrevistas. Eu estava tão ansiosa e preocupada em fazer um bom trabalho que eu vinha adiando o começo.
- Ei, você já entrevistou esses dois? – perguntou Micael, apontando para Arthur e Pérola. - Há quanto tempo vocês são um casal?
- Não faz muito tempo – respondeu Pérola, soltando uma risadinha. Arthur sorriu, mas eu tinha certeza que ele estava desconfortável.
- Então, vocês seriam perfeitos para a entrevista! – comentou Micael, entusiasmado. - Seria ótimo entrevistar casais em diferentes etapas do namoro – ele me disse, levantando sua sobrancelha direita como se eu estivesse entendendo as reais intenções dele.
- Eu acho que isso poderia ser divertido – anunciou Pérola. - Eu adoraria que você nos entrevistasse – continuou, enquanto colocava a mão sobre o braço de Arthur. - Se não tiver nenhum problema pra você.
- Por mim, tudo bem – respondeu Arthur, com a expressão ligeiramente mais tranqüila.
Eles começaram a sussurrar entre si e Micael virou–se para mim.
- Um casal recente, eles são perfeitos para o nosso artigo. – então, ele abaixou o tom de voz. - E você viu como os olhos dela brilharam quando ouviu a palavra “casal”? Todo mundo precisa de rótulos. É como se ninguém fosse maduro ou seguro o suficiente.
- Como você sabe que eles são um casal recente? – sussurrei, impaciente.
Micael fez uma expressão de satisfação.
- Eu sou um jornalista, Lua. Faz parte do meu trabalho decifrar a linguagem corporal. Observe os dois. – olhei para Arthur e para Pérola como se estivesse vendo – os pela primeira vez. - Preste atenção como eles trocam olhares, as duas cadeiras estão praticamente coladas, a mão dela sobre a perna dele…
- É você está certo – falei cortando-o - Eu to vendo – afirmei. De repente, me chamou a atenção de que minhas mãos estavam sobre a mesa, bem na minha frente. As de Micael estavam sobre o colo dele. Nós também não havíamos começado a sair juntos? Por que estávamos tão distantes um do outro? Por que não estávamos de mãos dadas?
“Dãh, Lua”, falei para mim mesma. “Você já esqueceu qual é o mote da matéria do dia dos namorados? Esse tipo de coisa é completamente contra tudo que você e Frank conversam. DPAs, sentimentalismo, romantismo exagerado. Aquelas coisas todas deixam vocês enojados, não é?
Então, por que, de uma hora para outra, eu estava imaginando como seria experimentá–las?
- Parece divertido – falou Pérola, interrompendo o meu devaneio. - Assim que você quiser nos entrevistar, estamos disponíveis.
Arthur concordou com a cabeça.
- Basta falar a hora e o local.
- Falando em “hora e local” – disse Micael, virando–se para mim -, amanhã vai acontecer uma palestra na qual eu estou interessado. Uma das amigas do meu pai, a Dra. Muzacz, que é professora de redação da faculdade de Hopkins, vai falar sobre as matérias de opinião no jornalismo. Pode ser uma boa ajuda para a edição do dia dos namorados.
- Uma palestra de faculdade? – perguntei. Eu nunca havia colocado os pés em uma faculdade. Isso soava como um programa maravilhosamente adulto.
- Que outro tipo de palestra poderia ser? – perguntou Micael. Eu soltei uma gargalhada, então percebi que ele não estava brincando.
Arthur revirou os olhos para mim. Eu fechei a cara para ele.
- É claro que eu tenho interesse. Adoraria ir. – contei a Micael.
Claro que assistir palestras de jornalismo não era algo que eu e Arthur fazíamos quando saiamos juntos, mas isso não significava que eu não fosse gostar.
- A Dra. Muzacz vai falar sobre aquele filme “Todos os homens do presidente” – falou Micael. - É uma historia sobre dois jornalistas que…
- Sei, eu já ouvi falar – disse Arthur, dando um peteleco numa migalha de pão sobre a mesa.
- Ei, vocês dois já viram aquele novo filme sobre uma apresentadora de telejornal? – perguntou Pérola. - Intimo e pessoal? Tem uma trilha sonora incrível com a Celine Dion. Minha irmã comprou o cd e…
Micael franziu a testa.
- Dificilmente a Dra. Muzacz discutira sobre a trilha sonora de Todos os Homens do Presidente. Ela irá analisar o tema do filme dentro do seu contexto histórico.
- Estou morrendo de vontade de assistir Intimo e Pessoal – falei abruptadamente, antes que Pérola ou Arthur pudessem falar algo mais sobre a trilha sonora do filme. Quer dizer, faça–me o favor. Eles não percebiam que Micael era um profissional? Que a musica de um filme não interessa a uma pessoa assim?
- Eu também to doida pra ver – Pérola deu um sobressalto. - Vocês não querem assistir conosco?
Eu olhei para Micael. Ele não parecia estar entusiasmado.
Arthur encolheu os ombros:
- Eu não sei. Nós poderíamos, talvez.
- Você sempre fica falando que eu tenho que conhecer a Lua – Pérola lembrou a ele. - Essa seria a chance perfeita.
- Que tal no sábado? – sugeri. - Cinema e Jantar? – essa seria a chance perfeita do meu namorado e do meu melhor amigo se conhecerem melhor. Talvez Arthur e Micael descobrissem algo em comum. Cheeseburgue. Jogos de futebol nas noites de segunda feira. Enfim alguma coisa.
E mais, eu conheceria Pérola. Afinal de contas, se ela faria parte da vida de Arthur, também faria parte da minha. Gostasse ou não.
-Então, sábado – declarou Pérola. - Tudo bem pra vocês?
- Certo – resmungou Arthur.
Micael balançou a cabeça e eu entendi que sim.
Um programa com Micael e Arthur. Eu mal podia esperar.

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By : Maria Fernanda e Vithória

Recado ....

Nós (Maria Fernanda e Vithória) vamos ficar alguns dias ausente do blog , por causa da escola ..... assim que as provas acabarem voltamos ao normal ... espero que entendem :D