-
É melhor você se exibir para sua torcida organizada – dei um largo sorriso para
Arthur, inclinando minha cabeça na direção das meninas superanimadas que jogavam
boliche na pista ao lado. Será que elas conseguiriam babar ainda mais por
ele?
-
Vamos ver – murmurou Arthur com as bochechas levemente
rosadas.
Eu
não sabia o que me divertia mais: as garotas que devoravam meus amigos com os
olhos ou ele que mal parecia nota-lás.
Ajeitei
– me na cadeira pensando também se eu não agia como aquelas garotas quando
estava perto de Micael Borges.
A
gente sabe quando está se oferecendo muito para um garoto não sabe?Eu tinha
certeza que aquelas garotas sabiam exatamente o que elas estavam fazendo. Mas eu
não era assim: toda vez que via Micael, mesmo com o cérebro e os joelhos
amolecendo, eu tentava disfarçar com todas as minhas
forças.
E
era por isso que Micael não tinha a menor idéia de que eu era apaixonada por
ele.
-
Observe e aprenda Lua – anunciou Arthur, enquanto esperava sua bola retornar. –
Eu vou acabar com você.
“Sim”,
pensei, “observe e aprenda como as mulheres se comportam como verdadeiras
debilóides”. Dei uma espiada nas garotas da torcida organizada de Arthur: elas
estavam encarando meu amigo dando risadas e cochichando. Não ficavam
envergonhadas de serem tão atiradas assim?
E
por que eu tinha que ficar? Se continuasse assim Micael nunca saberia o quanto
eu gostava dele.
Será
que queria que ele soubesse?
Sim.
Não.
Sim.
Não.
Mas e se houvesse uma minúscula chance de que Micael gostasse? E se ele me convidasse pra sair?
Não.
Sim.
Não.
Mas e se houvesse uma minúscula chance de que Micael gostasse? E se ele me convidasse pra sair?
“Certo,
certo. Continue sonhando Lua. O cara não está na sua.”
Arthur
puxou as mangas de seu agasalho azul – escuro até os cotovelos e abaixou a bola
para pegar a bola. Nossas vizinhas ficaram hipnotizadas pelos seus antebraços.
Ele lançou a bola na pista, e eu observei o modo como ela fez uma pequena curva
para a direita, acertando em seguida os dois pinos que faltavam. Um deles
balançou por um segundo e caiu para o lado, derrubando o
outro.
-
Há – disse Arthur triunfante. A torcida aplaudiu e soltou gritinhos. Arthur
dirigiu um sorriso sem graça pra elas e se esparramou na cadeira ao meu
lado.
-
Eu ainda tenho uma chance de derrotar você – falei.
Levantei
e caminhei em direção a pista. As meninas lançaram um olhar de desprezo e
correram para suas cadeiras disputando o melhor lugar para ver
Arthur.
“Quem
precisa de vocês, garotas?”, disse-lhes silenciosamente. “Eu também tenho a
minha torcida organizada pessoal: meu melhor amigo. Ainda que ele queira ganhar
de mim”.
Afinal
era para isso que serviam os melhores amigos.
Coloquei
o cabelo atrás das orelhas e apanhei minha bola. Uma bola de três quilos e meio
que Arthur havia me dado um ano atrás no meu aniversário de catorze anos. Lancei
– a com toda força em direção aos pinos.
Virei
para ver o rosto de Arthur e ouvi o estrondo prazeroso do strike que veio em
seguida.
-
Jogada de sorte – disse ele sorrindo para mim.
Nenhuma
comemoração nem salva de palmas das meninas da pista ao
lado.
Assim
que Arthur parou de se vangloriar e dizer que meu strike final não havia sido
suficientemente bom, nós seguimos para o balcão de entrada para devolver nossos
sapatos.
Dei
uma ultima espiada nas fãs de Arthur, que agora estavam com os pescoços
esticadissimos para conseguirem uma boa visão da bunda
dele.
Meu
Deus, eu sabia que o cara era super gatinho, mas elas podiam ser mais
discretas?
Na
verdade, acho que quando um cara é seu melhor amigo e você não sente “um algo
mais” por ele, fica difícil de entender esse tipo de
comportamento.
Por
outro lado o Micael...
Arthur
e eu colocamos os sapatos de boliche sobre o balcão e ficamos esperando a
atendente encontrar nossos tênis.
-
Ei! – quase gritei ao enxergar um casal debruçado sobre um dos terminais que
marcam os pontos do boliche. -Olha aquilo! Que coisa
vulgar!
Arthur
virou-se e avistou o cara e a garota que se amassavam loucamente. Eles estavam
espremidos sobre a máquina: os lábios dele grudados no pescoço dela, as mãos
dela em algum lugar entre os cabelos encaracolados dele.
-
E? – falou Arthur virando o rosto para mim. -Eles estão apaixonados. O que há de
tão vulgar nisso?
-
O quê?! É repugnante!
Demonstrações
Públicas de Afeto, também chamadas por mim de DPAs, me dão nojo. Por que os
casais pensam que todo mundo quer ver eles se lambendo?
Arthur
abriu um sorriso e me deu uma cutucada de lado com o
cotovelo:
-Você
é reservada demais, Lua. Como você acha que vai mostrar a um cara que está
interessada? Mantendo suas mãos longe dele?
Eu
revirei os olhos, prestes a soltar um comentário mordaz, mas Arthur estava
olhando fixamente para o chão com uma expressão
estranha.
-
Arthur? O que aconteceu?
Ele
levantou a cabeça assim que o atendente largou os nossos sapatos sobre o
balcão.
-
Nada. Vamos lá, “Senhorita Eu – Odeio – DPAs”.
No
caminho para a lanchonete passamos diante do casal de namorados. Agora eles
trocavam olhares profundos, as mãos ainda entrelaçadas. Acho que eu estava
preste a vomitar.
Algumas
coisas deviam ser pessoais. Não que eu tenha algo contra um beijinho aqui e ali,
ou andar de mãos dadas, mas duas pessoas coladas na frente de todo mundo já é um
pouco demais.
-
Eu só acho que esse tipo de coisa deve permanecer entre duas pessoas e mais
ninguém – expliquei pra Arthur, enquanto nos sentávamos diante do balcão da
lanchonete. -Quem precisa ver todo aquele sentimentalismo? É
grosseiro.
Arthur
deixou sua mochila sobre o banco.
-
Se você sentisse aquilo por alguém, não acharia DPAs tão
grosseiras.
Nesse
momento, sentimos o cheiro delicioso dos hambúrgueres e das batatas fritas que
vinha de dentro da lanchonete.
-
Eu to morrendo de fome – falou Arthur. -Quase deixar você ganhar, me fez gastar
muita energia.
Eu
dei um tapinha em seu braço e soltei uma gargalhada.
Mas
eu não conseguia parar de pensar em DPAs: com certeza Arthur estava errado, não
estava? Quer dizer embora eu me sentisse apaixonada por Frank London, não
conseguia imaginar a gente se espremendo sobre uma das maquinas do
Bowl-a-Rama.
O
problema era comigo ou com os outros? DPAs aconteciam por todo o lado em nossa
escola. Atravessar o corredor sem ver o relacionamento de alguém exposto era
quase impossível.
-
Ei Lee – chamou Arthur. -Faz o de sempre pra gente.
O
homem troncudo que mexia na maquina de refrigerante virou – se e sorriu para
nós.
-
Já está saindo – prometeu ele, caminhando para a cuba de batatas
fritas.
Lee
McKean, de cinqüenta e poucos anos, trabalhava na Bowl-a-Rama em Pikesville
desde a primeira vez que eu e Arthur havíamos ido lá, o que significava há muito
tempo. Lee sempre escutava as divagações sobre nossas vidas completamente sem
acontecimentos.
Mas
minha vida não deveria permanecer sem acontecimentos por muito mais tempo. Um
dos meus sonhos havia se tornado finalmente realidade: agora eu fazia parte da
redação do Potscript, o jornal da nossa escola. E isso significava que o meu
outro sonho também tinha uma pequena chance de acontecer: eu iria trabalhar ao
lado de Micael Borges durante todo o tempo! Eu mal podia
acreditar!
Jornalismo
era o máximo – apenas fatos. Preto no branco. Quem, o que, quando, onde, por que
e como. Coisas que eu podia entender facilmente.
Meu
único problema era tudo aquilo que existia de cinza nos
intervalos.
Como,
por exemplo, o que fazer para Micael me notar. Não existem manuais de onde –
quando – como para isso.
Lee
colocou uma grande porção de batatas fritas com molho de queijo na nossa mesa.
Arthur e eu nos empanturramos imediatamente.
Comer
me ajudou a parar de pensar em Micael.
O
quanto ele era lindo.
O
quanto ele era alto.
O
quanto ele era inteligente.
O
quanto ele era interessado em jornalismo.
Micael
era assistente dos dois editores do jornal, que estavam no ultimo ano da escola.
O que significava que ele tomaria o cargo de editor no ano seguinte, ou seja,
ficaria responsável pela função mais importante e prestigiada do
jornal.
-
Eu fico imaginando qual será o meu primeiro trabalho no jornal – falei, jogando
uma batatinha na boca.
E
não conseguia acreditar que o cara que mexia com meu coração como nenhum outro
tinha o mesmo interesse que eu! A mesma paixão! Não poderia ser mais
legal!
Arthur
sorriu para mim.
-Você
quase não para de falar sobre isso desde que entrou para o jornal na semana
passada.
-Eu
não posso evitar – falei alcançando um punhado de guardanapos. -Você sabe o
quanto eu queria isso. É o máximo!
Na
nossa escola, estudantes do primeiro ano podiam contribuir com artigos para o
jornal, mas apenas estudantes do segundo ano em diante faziam parte da equipe
fixa. Lua Blanco, assistente editorial, Escola Emerson,
Postscript!
-Você
está tão interessada nesse jornal que algum galã do cinema deve trabalhar lá –
brincou Arthur. -Não que você seja capaz de dar em cima de alguma celebridade.
Você nunca daria em cima de ninguém.
Eu
me mantive concentrada em tomar um longo gole do meu refrigerante. Nunca diria a
Arthur algo sobre meu interesse por Micael Borges.
Eu
ficara caída por Micael na primeira vez que o vira, na primavera passada, quando
ele se mudou para Pikesville e começou a estudar na Escola
Emerson.
Mas
o interesse aumentou quando eu comecei a ler seus artigos para o
Postscript. Ele era tão inteligente! Tão cheio de integridade
jornalística! Ele escreveu sobre diversos assuntos importantes que afetaram
Emerson e Pikesville. Micael era sério, dedicado, apaixonado pelo
jornalismo...
“Como
seria ter um pouco dessa paixão direcionada para mim?”
Eu
poderia apostar que Micael Borges jamais ficaria lambendo o pescoço de uma
garota em público. Eu poderia apostar que nós concordaríamos em varias
coisas.
Então,
por que nunca contei ao meu melhor amigo que estava louca por esse
cara?
Inocência.
Pura inocência.
Quando
Micael se transferiu para a escola faltavam apenas dois meses para acabarem as
aulas. E eu não o vi durante as férias. Assim, fiquei imaginando que quando as
aulas recomeçassem já estaria curada da minha
“paixonite”.
Mas
não estava. Na verdade, o interesse tinha se
multiplicado.
E
Micael estava mais alto.
Mais
forte.
Mais
moreno.
Será
que eu estava com medo de falar sobre o meu interesse para Arthur? Com medo de
deixar que alguém soubesse disso, talvez o próprio Micael? Por que eu precisava
ser assim?
Arthur
sempre foi o meu melhor amigo. Eu podia confiar nele plenamente. E agora que o
ano letivo estava começando eu trabalharia lado a lado com Frank e começaria a
remoer um monte de coisas na minha cabeça.
Como
eu conseguiria guardar isso só para mim? Eu precisava contar a Arthur.
Provavelmente ele teria algum bom conselho! Talvez eu até contasse para minhas
duas grandes amigas, Sophia e Mel, desde que elas jurassem manter segredo, é
claro.
-
Você não está, humm, totalmente errado sobre o lance do tal galã de cinema –
disse, olhando Arthur de relance.
Ele
se virou e me encarou, então agarrou o tubo de ketchup, virou sobre as batatas
fritas e começou a apertá-lo.
-
E...? – ele instigou.
-
Tem um cara, ele também está no segundo ano, um editor assistente – falei sem
pensar. - Eu fiquei um pouco interessada por ele durante um tempo. Mas, no ano
passado, a gente não fez nenhuma matéria juntos, então eu não tive oportunidade
de conversar com ele. Acho que talvez pudesse ter dito a ele o quanto eu gostava
dos artigos que ele escrevia, ou algo parecido, mas sei lá... Eu acho que ele
enxergaria através de mim, sabe? Como se conseguisse descobrir tudo o que eu
sentia.
Olhei
Arthur. Ele me fitava com uma expressão estranha.
-
Desculpe – falei. - Deve ser estranho ouvir tudo isso quando você nem desconfia
de nada – soltei uma gargalhada. -Eu acho que estava com vergonha de contar pra
você. Por que provavelmente eu não farei nada a respeito disso. Você acha que é
tudo uma grande besteira?
-
Não é besteira. É normal. – Arthur fez uma pausa no meio do movimento, e o
ketchup pingou lentamente do tubo para o nosso prato. - Bem, por que você não
corre atrás disso?
O
fato de ele não ter ficado louco comigo por ter guardado esse segredo foi como
receber uma luz verde. Então, agarrei suas mãos. Podia sentir meus olhos
piscarem, meu rosto corar.
-
Eu não sei. Quer dizer, eu acho que estou esperando por algum tipo de sinal
primeiro. Arthur, foi incrível. A semana passada, na minha primeira reunião...
Eu mal conseguia tirar os olhos dele! Ele é tão atraente, tão impressionante! No
final da reunião eu finalmente tomei coragem para dizer algo, uma idéia para um
artigo. E ele até falou que tinha um mérito!
Arthur
tomou um gole da sua bebida.
-
Isto foi demais da parte dele! – disse sarcasticamente, levantando uma
sobrancelha para mim. - E quem é ele?
-
Eu sei que não tenho chance nenhuma – eu franzi a testa enquanto afundava uma
batatinha num monte de ketchup. - Acho que ele não tem namorada, mas eu me sinto
medíocre ao lado dele. Ele escreve super bem e é editor assistente do jornal. E
eu sou apenas uma assistente editorial. E ele é tão bonito,
e...
-
Por acaso o capitão do time de futebol virou um intelectual e entrou para o
jornal? Quem é o cara?
-
Micael Borges – respondi de uma só vez, fechando meus olhos por um segundo
enquanto os seus cabelos castanhos, olhos castanhos e ombros largos passavam
flutuando pela minha mente.
Abri
os olhos e vi Arthur de queixo caído me fitando com
espanto.
-
Micael Borges? – repetiu ele, como se eu tivesse acabado de revelar que estava
apaixonada pelo Frankstein. -Você deve estar brincando! Ele é irritante! Eu fiz
duas matérias com ele no ano passado e agora estou atolado com ele no comitê do
livro anual. É um panaca, Lua. Veio para cá seis semanas antes das aulas
terminarem e se sentiu o rei do pedaço.
Agora
era a minha vez de fitar Arthur com o queixo caído. Micael Borges? O cara mais
incrível do planeta?
-
Você deve ter encontrado ele em um dia ruim ou algo parecido, Arthur – voltei –
me para o prato de batatas fritas, a raiva subindo pela garganta. Isso é
incrível. Eu finalmente arranjo coragem para contar para contar ao meu melhor
amigo o quanto eu gosto de um cara, e ele me fala que Micael é um
panaca!
Arthur
balançou a cabeça.
-
Não, ele é sempre irritante. Com certeza não vale a pena ficar obcecada por ele.
E ele não... não merece você – disse, encolhendo os ombros. -Você merece coisa
melhor. Além do mais eu acho que ele não tem amigos, de tão arrogante que
é.
-
Tenho certeza que ele tem amigos – devolvi, embora eu nunca tivesse visto Micael
com ninguém. Mas não havia nada de errado com isso. E, se por acaso ele não
tinha muitas coisas em comum com pessoas da nossa idade, não era algo tão
ruim.
-
E, ele é tão inteligente, Arthur! – acrescentei. - Acho que você está errado em
relação ao Micael. Mas não importa, por que ele nunca vai me dar bola mesmo. Eu
não sou exatamente a Miss Sedução ou coisa parecida.
O
rosto de Arthur amoleceu.
-
Lua, você é...
-
Eu não sou o tipo de garota que tem todos os homens aos seus pés – balancei a
cabeça. -Então vamos esquecer isso, certo? Não devia ter falado
nada.
-
Lua...
-
Sabe, – falei cortando ele – eu não consigo entender por que você não aproveita
toda essa atenção. Você tem idéia de quantas meninas já pediram para serem
apresentadas a você? Se você se apaixonasse por uma garota, não teria nenhum
problema em faze – lá perceber isso e conquista - lá. Você não sabe como
é.
As
bochechas de Arthur estavam vermelhas. Estudei sua aparência por um segundo,
passando pelos ombros largos, o cabelo escuro, os olhos quentes que faziam as
garotas delirarem. Qualquer uma concordava que ele era um gato. Mas eu conhecia
aqueles olhos desde os cinco anos de idade. Estava imune. Éramos companheiros, e
acho que nunca olhei para Arthur de modo diferente. A gente sabe quando sente
alguma coisa a mais por alguém – como aquilo que eu sentia por Micael. Estar com
Arthur era como estar com alguém da minha família. Como um irmão.
- Talvez eu saiba como é – Arthur falou mais para a batatinha do que para mim.
- Talvez eu saiba como é – Arthur falou mais para a batatinha do que para mim.
-
Hã? – resmunguei.
Arthur
também estava alimentando uma paixão por alguém? Ele raramente namorava. Eu
sempre havia pensado que ele estava concentrado apenas na escola, no hóquei e no
comitê do livro anual de alunos. Mas talvez Arthur também fosse muito tímido
para ir atrás de quem ele gostava.
-
É a Rayana? Da sua aula de inglês? – arrisquei. Era uma garota magra com cabelo
escuro encaracolado. Eu já havia reparado que ela olhava muito para
Arthur.
-
Não é a Rayana.
-
Então, quem é? – perguntei, morta de curiosidade. Que garota tinha finalmente
conquistado Arthur?
-
Estão precisando de um reabastecimento, garotos? – interrompeu Lee, olhando para
mim e em seguida para Arthur, como que esperando uma resposta. Ele nunca havia
nos visto conversando tão seriamente.
-
Não, estamos bem – respondi rapidamente. Lee deu de ombros e nos deixou a
sós.
Arthur
passou a olhar fixamente para baixo, como se o antigo balcão amarelo tivesse se
tornado hipnótico e interessante.
-
Olhe, deixe para lá, ok? De qualquer modo, agora não importa
mais.
-
Hã? Por quê? Ela tem um namorado?
“Quem
é ela?”, eu me perguntava, passando mentalmente todas as fotos do livro de aluno
do ano passado.
-
Lua... – Arthur levantou a cabeça e olhou para mim.
Era
como se ele estivesse em um tormento enorme. Talvez essa menina estivesse fora
do alcance dele, do mesmo modo que Micael estava para mim. Mas havia algo na
expressão de Arthur – quase a mesma expressão das pessoas que se olham no filme
quando estão loucamente apaixonadas, mas com muito medo de confessar como se
sentem e...
“Ai
meu Deus! Ai, meu Deus! Ai, meu Deus!”
Meu
corpo todo congelou, com exceção do coração, que estava batendo um milhão de
vezes por segundo. Virei o rosto para o outro lado, olhando para baixo, sem
saber o que dizer ou o que fazer.
“Ai,
meu Deus! Ai, meu Deus! Ele vai me dizer que sou eu!”
-
Então, agora você sabe – ele falou baixinho. Mesmo pelo canto do olho eu podia
ver o quanto seus ombros estavam tensos e sua boca
travada.
Engoli
em seco.
-
Desculpe – falou Arthur, contorcendo o rosto.
Eu
não sabia o que dizer. O que dizer depois que o seu melhor amigo te conta depois
de centenas de anos que a garota que ele deseja é você?
-
Humm, eu... humm, Arthur, eu...
De
repente eu me senti zonza, como se fosse cair do banco caso minhas mãos não
estivessem agarradas ao balcão.
“Como
isso é possível?”, eu me perguntava. “Como Arthur pode gostar de mim dessa
maneira? Eu sou Lua Blanco, sua melhor amiga. Eu o vi de cuecas quando ele tinha
cinco anos de idade. Eu o vi chorando quando ele tinha seis anos. Eu o vi
vomitando quando ele tinha dez anos e comeu comida estragada. Ele é meu melhor
amigo. Ele não é um cara - cara, e eu não sou uma garota -
garota.”
Mas
agora ele dizia que eu era.
-
Mas você gosta do Micael – ele recostou – se no banco. - Eu nem posso acreditar
que contei pra você.
“Ai,
meu Deus. Ai, meu Deus.”
-
Arthur, você é o meu melhor amigo do mundo. Eu, eu...
Ele
expirou com força, apoiou os cotovelos sobre o balcão e passou a mão pelos
cabelos.
-
Eu gosto de você, mas não desse jeito – sussurrei.
Arthur
respirou profundamente mais uma vez.
-
Olhe, saber que você gosta do Micael Borges me deixa meio mal, e se eu não
contasse pra você, eu, bem...
-
Eu nunca pensei em você dessa maneira – falei de supetão, mantendo meus olhos no
chão. - Da mesma maneira como eu penso em Micael Borges – acrescentei sem saber
o que falar.
Arthur
endireitou a postura.
-
É, bem... – continuou ele. - Não posso te culpar. Afinal de contas, você me viu
quando eu estava coberto de catapora dos pés a cabeça. Lembra-se como todo mundo
me chamava de Cara de Pizza?
Eu
abri um sorriso, o clima tinha ficado mais leve.
-
Lembro – então peguei uma batatinha que já estava mole e gelada e joguei nele. -
Isso vai atrapalhar as coisas entre a gente? Você é meu melhor amigo. Eu não
consigo imaginar...
-
Não se preocupe – disse ele virando a cabeça para me olhar. - Pelo menos agora
não temos mais segredos, certo? – disse abrindo um sorrisinho meio sem graça.
-Talvez seja apenas uma paixãozinha, ou talvez eu tenha ficado com ciúmes do
Micael. Não é o fim do mundo, Lua, mesmo.
-
Então... Estamos bem? – perguntei, aliviada.
-
Estamos bem – ele falou, com um sorriso mais natural
agora.
Mas
será que estávamos mesmo?
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By : Maria Fernanda e Vithória